quinta-feira, 10 de setembro de 2015

PENSANDO UM POUCO SOBRE O ENSINO BÍBLICO DA MEDITAÇÃO...





A IMPORTÂNCIA DA MEDITAÇÃO
PARA O EXERCÍCIO DA PIEDADE
Texto: Salmo 19.14

INTRODUÇÃO:

Nesta oportunidade eu gostaria de falar sobre a importância da meditação para a vida cristã. 
Mas, afinal, o que é meditação?
  • Costumamos associar “meditação” a aquilo que as religiões orientais ensinam;
  • Mas a meditação é um ensino bíblico e muito praticado pelos cristãos em todas as eras.
  • Talvez nós não tenhamos muita familiaridade sobre o assunto porque pouco se fala sobre a meditação ensinada pela Palavra de Deus.

Frase de Transição: Vejamos alguns ensinos práticos sobre a meditação:

I – DEFINIÇÃO E NATUREZA DA MEDITAÇÃO
A palavra “meditar” significa “pensar sobre” ou “refletir”. Significa ainda “sussurrar, fazer ruído com a boca... Implica o que expressamos por meio de um solilóquio ou falar consigo mesmo”. Esse tipo de meditação envolvia recitar para si, em espaçado murmúrio, passagens da Escritura que alguém armazenava na memória.
Diversas passagens da Bíblia mostram a prática da meditação ou a recomendação dela:
Gn 24.63: “Saíra Isaque a meditar no campo, ao cair da tarde...”
Josué 1.8: “Não cesses de falar desse Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite...”
O termo “meditação” aparece com mais frequência nos Salmos do que em todos os demais livros da Bíblia juntos.
Salmo 1.2: “... E na sua lei medita de dia e de noite...”
Salmo 63.6: “No meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante as vigílias da noite”.
Salmo 119.15: “Meditarei nos teus preceitos e às tuas veredas terei respeito.”
Salmo 119.97: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia!”
Salmo 119.148: “Os meus olhos antecipam-se às vigílias noturnas, para que eu medite nas tuas palavras.”
Para os puritanos, a meditação exercita, ao mesmo tempo, a mente e o coração. Thomas Watson definiu meditação como “um santo exercício da mente por meio do qual trazemos à memória as verdades de Deus, ponderamos seriamente sobre elas e as aplicamos a nós mesmos”.
A meditação é como um óleo que lubrifica uma máquina. Assim, quando lemos as Escrituras, ouvimos um sermão e oramos, a meditação faz com que essas atividades envolva todo o nosso ser, promovendo crescimento espiritual.
Os puritanos falavam sobre dois tipos de meditação – Ocasional e Deliberada.
Meditação Ocasional – Ocorre com o uso dos sentidos e pode ser praticado em todo tempo. Exemplo: Prov. 6.6 (observação da formiga); e João 4.13-14 (Jesus compara a água com sua obra salvadora).
Entretanto, precisamos tomar cuidado com esse tipo de meditação para não a transformarmos em superstição, como ocorreu com a ICAR. A imaginação de alguém tem de ser dominada pela Santa Escritura.
Meditação Deliberada (ou diária) – Ocorre quando alguém separa algum tempo e entra em sua sala privada, ou numa caminhada solitária, e então medita solene e deliberadamente sobre assuntos celestiais.
Thomas White disse que a meditação deliberada emana de quatro fontes: Das Escrituras, das verdades práticas do Cristianismo, de ocasiões especiais e de sermões. “É melhor ouvir apenas um sermão e meditar sobre seu conteúdo, do que ouvir dois sermões e não meditar sobre nenhum deles”. Thomas White
II – O DEVER E A NECESSIDADE DA MEDITAÇÃO
A meditação em Deus, em sua Palavra e em suas obras é um dever de todo cristão, porque é uma ordem de Deus:
Deuteronômio 6.5-9. Destaque para o verso 7 que diz “tu as inculcarás...”
Dt 32.46: “Disse-lhes: Aplica o coração a todas as palavras que, hoje, testifico entre vós...”
Isaías 1.3: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende”.
Lucas 2.19: “Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração”.
Quando falhamos em meditar, desconsideramos a Deus e Sua Palavra, e revelamos que não somos piedosos – Cf. Salmo 1.2: “Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”.
Em segundo lugar, devemos meditar sobre a Palavra como uma carta que Deus nos escreveu.
Em terceiro lugar, ninguém pode ser um cristão sólido sem meditar. “Um cristão sem meditação é como um soldado sem armas, ou um operário sem ferramentas. Sem meditação, as verdades de Deus não permaneceriam conosco; o coração é duro e a memória, efêmera; e sem meditação tudo está perdido”. Thomas Watson
Em quarto lugar, sem meditação, a Palavra pregada falhará em ser-nos proveitosa.
Em quinto lugar, sem meditação, nossas orações serão menos efetivas. “A palavra alimenta a meditação e a meditação alimenta a oração; devemos ouvir para que não erremos e meditar para que não sejamos estéreis”. Thomas Manton
Em sexto lugar, os cristãos que falham em meditar são incapazes de defender a verdade. 
III – A MANEIRA DE MEDITAR
Vejamos algumas sugestões sobre a frequência e tempo de meditação, preparação para a meditação e diretrizes para a meditação:
FREQUÊNCIA E TEMPO
1º) A meditação divina deve ser frequente – o ideal é que seja duas vezes ao dia, mas ao menos uma vez ao dia, caso seja difícil duas. Ilustração: Lembre-se de Josué 1.8.
2º) Estabeleça um tempo para a meditação e persista nesse período. Aproveite o tempo em que você está mais alerta e não apertado por outras obrigações.
3º) Medite regularmente “até encontrares algum benefício sensível transmitido à tua alma”. Isso não significa que você deva passar horas meditando, mas aproveite o tempo reservado para gastá-lo só para esse fim.
PREPARO
  1. Limpe seu coração das coisas desse mundo;
  2. Tenha seu coração purificado da culpa e da poluição do pecado, e despertado pelo fervoroso amor pelas coisas espirituais;
  3. Abrace a tarefa da meditação com máxima seriedade;
  4. Encontre um lugar para meditar que seja tranquilo e livre de interrupções (Mt 6.6).
  5. Mantenha a postura física que seja reverente: Assentado, em pé, andando ou se prostrando diante de Deus. Durante a meditação, o corpo deve ser o servo da alma. O alvo é concentrar a alma, a mente e o corpo na presença do glorioso Deus.
ORIENTAÇÕES:
  1. Comece pedindo a assistência do Espírito Santo. Ore pelo poder de utilizar sua mente e focar os olhos da fé nesta tarefa.
  2. A seguir, leia as Escrituras, então selecione um versículo ou doutrina sobre a qual meditar.
  3. Você pode também selecionar um tema aplicável às circunstância atuais e que beneficie à tua alma. Por exemplo: Se você está triste, sem ânimo, medite sobre as promessas de Deus asseguradas ao seu povo. Se você está aflito por problemas financeiros, medite sobre as maravilhosas providências para com os que são carentes (Mt 6.26).
  4. Exercita-te na prática de decorar versículos bíblicos e tente aplica-los ao cotidiano.
  5. Tenha o hábito de anotar sermões e, durante a semana, procure meditar sobre os pontos principais.
  6. Use “o livro da consciência, o livro da Escritura e o livro da criação”. Exemplo: Lucas 2.19: “Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração”.
  7. Lembre-se de que a leitura da Bíblia, a meditação e a oração formam uma unidade.
  8. Conclua sua meditação com oração, ação de graças e cânticos espirituais. “A meditação é o melhor começo da oração, e a oração é a melhor conclusão da meditação”. George Swinnock
  9. Por fim, que a meditação e a prática, como duas irmãs, andem de mãos dadas. Meditação sem prática apenas aumentará sua condenação.

IV – OS BENEFÍCIOS DA MEDITAÇÃO
Os puritanos, defensores entusiastas da meditação, enumeravam dezenas de benefícios, utilidade, vantagens ou melhoramentos da meditação. Vejamos alguns:
  1. A meditação ajuda a aumentar o conhecimento da santa verdade (Pv 4.2);
  2. A meditação amplia nossa fé, ajudando-nos a confiar no Deus das promessas em todas as nossas tribulações.
  3. A meditação estimula ao arrependimento e a transformação da vida (Sl 119.59; Ez 36.31)
  4. ... É uma grande amiga da memória
  5. ... Nos ajuda a visualizar o culto como uma disciplina a ser cultivada. Ela nos leva a preferir a casa de Deus à nossa própria.
  6. ... É um auxílio à oração (Sl 5.1).
  7. ... Nos ajuda a ouvir e ler a Palavra com real benefício.
  8. ... Nos capacita para “o cumprimento dos deveres religiosos, porque ela comunica à alma o senso e sentimento vivos da bondade de Deus; e assim a alma é estimulada ao dever”.
  9. ... Ajuda a prevenir pensamentos vãos e pecaminosos (Jr 4.14; Mt 12.35).
  10. ... Nos ajuda, inclusive, a tomar decisões de forma mais consciente e consistente, evitando-nos de precipitações pecaminosas.
  11. ... Nos ajuda a perseverar na fé; Ela mantem nossos corações apetitosos e espirituais em meio a todos os nossos empreendimentos externos e mundanos.
  12. ... É uma poderosa arma que afasta Satanás e a tentação (Sl 119.11,15; 1Jo 2.14).
  13. ... Nos ajuda a beneficiar outros com nossa comunhão e conselhos espirituais (Sl 66.16; 77.12; 145.7).
  14. A meditação promove a gratidão por todas as bênçãos derramadas por Deus sobre nós, através de Seu Espírito.
  15. A meditação glorifica a Deus (Sl 49.3).

CONCLUSÃO:
Meditação não é oração, mas é feita com oração; Não é leitura bíblica, mas deve ser feito com (ou após) a leitura bíblica.
A meditação promove crescimento espiritual e é agradável aos olhos de Deus.
Por isso, estimule-se ao exercício da meditação para que também “as palavras dos [seus] lábios e o meditar do [seu] coração sejam agradáveis na [...] presença do Senhor, rocha [sua] e redentor [seu]”. Salmo 19.14

Cabrália, 06 de Setembro de 2015.

Baseado no Livro "Espiritualidade Reformada", de Joel Beeke, no capítulo que fala sobre "A prática puritana da meditação", pág. 109. Editora Fiel, São José dos Campos - SP, 2014.